Os anos 80 No blogue «A Rádio em Portugal», fala-s…

Os anos 80
No blogue «A Rádio em Portugal», fala-se hoje dos anos 80, a propósito de um extenso artigo da revista Sábado sobre esta década, avançando que nada foi escrito sobre a rádio e acrescentando que «Portugal nunca teve tanta e tão boa rádio como naquela década». Concordo, apesar da memória sobre a década em questão recorrer essencialmente ao que o meu irmão ouvia e àquilo que, à distância, consigo recordar com o apoio de terceiros.
Gostava de recuar, agora, aos idos anos 80 para escutar com clareza os sons e os programas que enchiam as estações nacionais e as rádios piratas…

Em meados nos anos 80 emergiram uma série de estações desenquadradas de qualquer disciplina legal que se foram afirmando no espaço radioeléctrico, escapando à fiscalização dos CTT. As rádios livres, ou «rádios piratas» baseavam-se no improviso criando um cenário de comunicação de novidade, baseado numa linguagem popular, distante dos formatos de comunicação institucional da maior parte das rádios da altura. Conquistaram o direito a um espaço próprio e irromperam com um novo tipo de comunicação, alternativo ao sistema radiofónico legalizado. Surgiram com o objectivo de privilegiar os interesses e as necessidades culturais, sociais e educacionais das regiões que serviam, e que as rádios nacionais não tinham interesse ou não podiam cobrir, ao mesmo tempo que privilegiaram a comunicação com os ouvintes. As rádios piratas, fundadas num sistema de colaborações não remuneradas (ou com remunerações simbólicas) tornaram-se embriões de criatividade, e criaram a possibilidade de formar futuros profissionais (alguns dos melhores profissionais que hoje encontramos na rádio, iniciaram a sua carreira numa das mais de seiscentas rádios livres da altura). Recordo o que já escrevi sobre os anos 80, em particular sobre a rádio Comercial e os seus programas. A Comercial marcou a década de 80 com uma nova grelha de programas e a aposta em pessoas novas. Quando surgiu, a Rádio Comercial pretendia ser uma rádio generalista. Muito embora na altura ainda fosse uma rádio de programas, com artistas da rádio, pretendia fundamentalmente chegar a um público urbano. Foi o primeiro formato que existiu de carácter fragmentado, que procurava um público. A Rádio Comercial marcou a rádio da época com programas como: «A Grafonola Ideal» e a «Febre de Sábado de Manhã», de Júlio Isidro; «Flor do Éter» de Herman José e «O Passageiro da Noite» de Cândido Mota. Em 1982, nasceu o «Café com Leite», um programa emitido na Onda Média e no FM da Comercial, que era basicamente aquilo que hoje fazem as rádios no período da manhã: anedotas, conversa numa estrutura com dois microfones. Em 1983, três novos programas passaram a ser transmitidos pela Rádio Comercial: «Som da Frente» de António Sérgio, «Trópico de Dança» de João David Nunes, Paulo Augusto e Miguel Esteves Cardoso e também «Pretérito Mais que Perfeito» de Rui Morrison e Paulo Augusto. De todos, o mais marcante foi «Som da Frente», de António Sérgio, que ao longo de dez anos divulgou o que melhor se fazia na música, com especial destaque para a produção britânica. O «Som da Frente» assumiu-se desde sempre como um programa que escapava ao sucesso fácil… Sinal de uma época, a segunda metade da década de oitenta viu nascer vários programas importantes no panorama radiofónico português: em 1986 estrearam-se, na Rádio Comercial, o novo programa de Herman José «Rebéubéu Pardais ao Ninho» e «Rock em Stock» de Luis Filipe Barros, um programa cujo selo «número um do Rock em Stock», fazia disparar as vendas dos discos. À distância, conclui-se que a Rádio Comercial foi muito bem concebida e foi o último momento da rádio dos artistas (das estrelas da rádio, as pessoas que eram conhecidas por trabalharem na rádio), com o artista absolutamente decisivo no formato da rádio…
Aceitam-se memórias e contributos para este post!
3 comments
  1. Francisco said:

    Noites de Luar (Anibal Cabrita), Sete Mares (Sílvia Alves), Búzio Ardente (Fernando Alves) – Antena 1.

  2. Anonymous said:

    Mais alguns:
    Ilha dos encantos (Amilcar Fidelis – RFM); Pelo do cão (José Carlos Tinoco – Nova Era Radio); Arco do Cego – Miguel Tê – Nova Era Radio); Colar de Pérolas (Manuel Falcão – RFM).

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